25 de janeiro de 2014

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Caminhos para uma escola alfabetizadora

Para que todos os alunos saibam ler e escrever antes de chegarem aos 8 anos, a equipe gestora deve investir na formação dos professores e na criação de um ambiente alfabetizador.

 

Aprendizagem
Definir as expectativas

O primeiro passo é estabelecer o que os alunos têm de aprender nos três primeiros anos do Ensino Fundamental. Algumas secretarias já fixam as metas: a estadual de São Paulo, por exemplo, deliberou que no fim do 1º ano as crianças devem conhecer os usos e as funções sociais da escrita, compreender o sistema alfabético e ler e escrever palavras e sentenças. Ao terminar o 2º, elas precisam ler e formular textos curtos e utilizá-los em práticas sociais. Já na conclusão do 3º, espera-se que os estudantes estejam aptos a ler com fluência, produzir escritas ortograficamente corretas e localizar informações em textos mais longos. Caso a secretaria de Educação não tenha as expectativas de aprendizagem elaboradas, a própria escola terá de fazer isso.

Usar a leitura e a escrita como prática social

Dentro da escola, é certo que os alunos precisam ler e escrever com a mesma finalidade que todos na sociedade o fazem: uma antologia poética e um livro de contos, por exemplo, elaborados por uma turma, têm de ser compartilhados com os colegas e distribuídos às famílias; as regras de um jogo, escritas para serem consultadas durante a brincadeira e assim por diante. Nada de escrever somente para o professor ler. "Ver como o material escrito é usado e considerar o leitor na hora das produções dá sentido a elas e permite que os estudantes entendam seus propósitos", afirma Beatriz Gouveia, coordenadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.

Estimular a ler e escrever desde cedo 

Mesmo sem estarem alfabetizados, os pequenos da Educação Infantil conseguem identificar o próprio nome, "ler" para os colegas uma parlenda que conhecem de memória e diferenciar as imagens da escrita. Isso se o contato com textos diversos se der desde cedo, com o professor da creche e da pré-escola lendo para os bebês e as crianças, oferecendo livros e outros suportes da escrita para serem manipulados e permitindo que todos "escrevam" - cada um do seu jeito. "Dessa forma, o grupo chega ao Ensino Fundamental pensando sobre o sistema da escrita e entendendo que ela representa a fala", afirma Marisa Garcia, doutora em Educação e consultora do Programa Ler e Escrever, da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

Realizar avaliações diagnósticas 

Para ter consciência do nível de cada aluno nas habilidades de leitura e escrita, o ideal é realizar pelo menos cinco sondagens por ano: uma no início do período letivo e as outras no fim de cada bimestre. "Com os resultados, o professor pode se reunir com o coordenador pedagógico e pensar em estratégias que promovam os avanços necessários", afirma Marisa.

Planejar atividades de reforço 

Se algum aluno não atingiu as expectativas de aprendizagem, é obrigação da escola oferecer opções para que ele não fique para trás - como grupos de apoio, aulas no contraturno e atividades complementares ao trabalho de sala de aula. Isso durante todo o ano. Ter critérios objetivos para a seleção dos alunos que participarão dessas turmas e professores alfabetizadores ajuda no planejamento e no sucesso das ações.

Valorizar as produções 

Ao coordenador pedagógico cabe orientar a equipe docente a reconhecer toda e qualquer tentativa de escrita a fim de manter os alunos motivados a elaborar os próprios textos -- que podem ser expostos em murais, painéis e varais instalados nas áreas de lazer e nos corredores. Além de providenciar os suportes, os gestores devem se certificar de que eles estão exibindo a produção de toda a turma e são atualizados com frequência.

Criar um ambiente comunicador 


Bilhetes para as famílias, notícias de caráter social, cultural, institucional e administrativo, convite para uma comemoração e atas de reunião são alguns dos textos que circulam no ambiente escolar e, portanto, devem ser valorizados. "Eles reforçam o uso da linguagem como uma forma de expressão e comunicação e democratizam o acesso às informações, contribuindo para a aprendizagem da leitura e da escrita", defende Vera Masagão, coordenadora geral da ONG Ação Educativa, em São Paulo.

Equipe
Ter um coordenador pedagógico 

É esse profissional que vai, semanalmente, orientar o horário de trabalho coletivo. Esse momento de troca de experiência entre os docentes sobre as situações da sala de aula é o mais adequado para discutir as teorias e práticas pedagógicas elaboradas nos últimos 20 anos - muitas mudanças aconteceram no conhecimento didático sobre o processo de alfabetização nesse período. A prática se torna ainda mais eficaz se o coordenador incluir em sua rotina o acompanhamento de aulas, pois, ao observá-las, ele conseguirá apoiar a atuação do educador e orientá-lo adequadamente.

Investir na especialização dos educadores 


Certamente os professores se tornarão experts em alfabetização se a formação na escola for bem feita pelo coordenador pedagógico. Mas onde ele se atualiza? O interesse em buscar informações nessa área ajuda, porém o apoio do supervisor da Secretaria de Educação é imprescindível. Se esse contato for próximo, a troca entre eles fica mais rica e o técnico terá mais facilidade para organizar cursos e palestras que atendam às necessidades da rede e buscar os recursos formativos oferecidos pelo Ministério da Educação (MEC). Estreitar o contato com universidades e estudiosos em cursos e palestras é outro caminho a ser explorado pelo gestor. A ele cabe também ajudar os profissionais a organizar a agenda de modo que coordenadores e professores possam comparecer aos encontros sem prejudicar as aulas.

Material
Ampliar o acervo e preservá-lo 

Costuma-se pensar que livros com muitas figuras são os preferidos das crianças que estão começando a ler, porém o que as atrai mesmo é uma boa história. A biblioteca da escola e o canto de leitura de cada sala de aula devem estar repletos de publicações com imagens, porém nada impede que o acervo seja maior e mais diversificado. Livros de contos de terror e de aventura, ficção, poesias e outros gêneros são bem-vindos à coleção. Os textos mais complexos podem ser lidos pela professora e emprestados às crianças para que os pais leiam com elas. As escolas públicas contam com o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), do MEC, e outras iniciativas empreendidas pelas Secretarias de Educação dos estados e municípios. Também é possível organizar campanhas de arrecadação junto à comunidade desde que haja critério para selecionar o material recebido. Campanhas educativas para ensinar as crianças a cuidar dos livros e o controle de retirada dos exemplares são fundamentais para preservá-los.

Disponibilizar o acesso aos computadores 

O uso da internet colabora no processo de alfabetização das crianças na medida em que elas têm as letras disponíveis no teclado, facilitando a escolha e eliminando a dificuldade do traçado. Aos pequenos pode ser sugerida a elaboração de uma lista de animais no editor de textos, com figuras que eles mesmos vão procurar na internet. A pesquisa sobre o autor de uma obra lida em sala também é uma atividada a ser explorada. Para Vera Masagão, o contato com a tecnologia é importante, pois, nos próximos anos, computadores, tablets e celulares serão os principais suportes de escrita.

Transformar a sala de aula 

Nada de paredes vazias e de cantos sem material escrito. Livros, revistas, gibis e jornais precisam estar em local acessível para que as crianças os manuseiem. O alfabeto, as regras da brincadeira ou da receita culinária que será feita no dia e outros textos, fixados em murais, servem de consulta para os estudantes nas tentativas de escrita. Importante ter o nome dos alunos em letras maiúsculas numa lista gigante ao lado do quadro e na identificação dos materiais escolares. Beatriz Gouveia lembra que o alfabeto móvel e os jogos pedagógicos - cujo foco seja a palavra inserida em contexto comunicativo - contribuem para que situações de uso da escrita ganhem destaque nas aulas.

Espaço
Utilizar bem o local de leitura

Obras de qualidade da literatura infanto-juvenil e gêneros variados devem fazer parte do acervo da biblioteca ou sala de leitura. No entanto, o espaço só adquire relevância quando as crianças realizam atividades como rodas de leitura, reconto de histórias e saraus literários. O ideal é ter um profissional responsável por planejá-las, organizar os exemplares e indicar livros para professores e alunos. O local ainda pode ficar disponível para a comunidade do entorno da escola.

Formar agrupamentos pequenos 

Com poucos alunos, o professor consegue atender a todos, respeitando o ritmo de cada um e oferecendo atividades específicas. Além disso, em turmas menores, todos têm a chance de participar mais das propostas coletivas. Em novembro, foi aprovado pelo Senado Federal - e está em tramitação na Câmara dos Deputados - um projeto de lei que determina o máximo de 25 estudantes por sala nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Há experiências exitosas também com dois professores nas turmas de alfabetização.

Tempo
Promover atividades diárias de leitura 

Diretor, coordenador pedagógico e professores definem em que momento inserir uma atividade diária de leitura. No planejamento das aulas, ela é obrigatória. Por que não torná-la rotina também na abertura de reuniões de formação, de equipe e de pais e na pausa da jornada dos funcionários? Todos, certamente, vão se sentir à vontade para abrir um livro se isso for estimulado pelos gestores.

Garantir o cumprimento dos dias letivos 

São 200 dias e 800 horas por ano que a escola deve assegurar aos alunos. No entanto, não basta que a quantidade seja cumprida. É preciso assegurar a boa utilização do tempo para o ensino e a aprendizagem. A observação de sala de aula ajuda o coordenador pedagógico a ver se isso está sendo feito. Se ele notar desperdício com tarefas pouco importantes, deve inserir a discussão sobre o máximo aproveitamento do tempo das aulas nos encontros de formação a fim de orientar os professores.

Comunidade
Comunicar as propostas de alfabetização aos pais

Será mais fácil acompanhar a aprendizagem dos filhos se os familiares forem bem informados sobre os procedimentos usados pela escola para atingir tal objetivo. "As reuniões de pais servem a esse propósito, assim como palestras que abordam a maneira como as crianças aprendem a ler e escrever", afirma Paula Stella, professora de pós-graduação do Centro de Formação da Escola da Vila, em São Paulo. Nos encontros, é possível dar orientações sobre como ajudar os filhos. Os pais podem perguntar se há lição de casa, reservar um local tranquilo para que a criança faça as tarefas, olhar o caderno e comentar os avanços. E, claro, ler para e com os pequenos.

Incluir a família nas atividades

Quando participam de eventos como feira de troca de livros e gibis, saraus literários e encontros com autores, os pais mostram aos filhos a importância de ler e valorizam a atividade de leitura. Por isso, um convite para comparecer à escola nesses momentos é bem-vindo, assim como a inclusão em projetos que demandem a leitura em família.

FONTE: Gestão Escolar Editora Abril

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